data-filename="retriever" style="width: 100%;">Eventualmente, falo em futebol nos meus textos para jornal. E quando o faço, gosto de reproduzir a genial frase de Arrigo Sacchi, ex-técnico da seleção italiana, para quem o antigamente chamado nobre esporte bretão é apenas a coisa mais importante das coisas desimportantes. Sabemos nós torcedores encantados com a magia do futebol, que a paixão e as emoções que ele desperta, vezes sem conta, nos levam a mais exultante alegria ou a mais aguda e dolorida tristeza.
É de público conhecimento (considerando "público" as pessoas com as quais me relaciono ou que me conhecem de minha participação nas coisas da vida santa-mariense) que sou - não direi fanático, porque a ideia de fanatismo me desagrada pro-fundamente - um torcedor exacerbado do glorioso e imortal tricolor porto-alegrense. E nunca fiz segredo de que a maior emoção que senti na vida foi a resultante do desfecho da épica e nunca suficientemente cantada em prosa e verso Batalha dos Aflitos. Nenhuma outra emoção sentida ao longo da minha já longa caminhada me bateu tão forte. E aí incluem-se formaturas, casamentos, nascimento de filhos, conquistas profissionais, homenagens de reconhecimento recebidas. Talvez, a emoção que mais se aproxime daquela sentida na tarde do dia 26 de novembro de 2005 seja o nascimento dos netos.
Mas, voltando à máxima de Arrigo Sacchi, sabemos, todos os adeptos - como dizem nossos irmãos portugueses - ou não de um time de futebol, que este esporte é, hoje, uma engrenagem monstruosa que move montanhas de dinheiro, inclusive dinheiro havido de forma desonesta pelo mundo todo e que, do ponto de vista empresarial é apenas um lucrativo negócio, que explora nossa paixão de torcedores.
Interessante que mesmo tendo clara consciência desse fato continuamos, nos estádios, nas ruas ou em frente de aparelhos de televisão, a vibrar, a rir e a chorar pelo sucesso ou pelo insucesso dos nossos clubes, pois no fundo de nossos corações não há lugar para histórias de falcatruas, de negociatas, de arranjos, de mercantilismo, de boicotes ou de vestiários "rachados".
Em nossos corações de torcedores, só se abrigam o amor, a mágica alegria que as conquistas despertam, a esperança permanente de que o resultado negativo de hoje seja apenas o fermento que fará com que cresçam as vitórias amanhã. Em nossos corações de torcedores, não há lugar para o ódio, para traições, para vinganças, por mais devastado que esteja nosso ânimo em razão do insucesso eventual ou do fracasso rotundo, tudo porque, ano que vem, feito mitológicas Fênix, renasceremos das cinzas e alçaremos voos que consagração até o fim dos tempos nossas vitórias monumentais.
Até mesmo a soberba, que hoje nos fez cair, amanhã, transvestida de humildade, será alavanca do nosso soerguimento, pedra e cimento da construirão dos alicerces de novas e grandes conquistas, tudo embalado por nossa inabalável fé nas vitórias. Para quem, em 11 de dezembro de 1983, pintou a Terra de azul, mais um passeio pelos desvãos da Série B do campeonato brasileiro será apenas um dolorido e rápido pesadelo, que logo se transformará em novo e vigoroso sonho em azul, preto e branco.